EUA - Obama mata Osama Seg, 02 de Maio de 2011 16:41 Isaac Bigio*/Especial para BR Press (Londres, BR Press) - O presidente dos EUA anunciou a execução de Osama Bin Laden, de um de seus filhos e de outras pessoas, numa operação de 40 minutos, na qual nenhum de seus soldados foi ferido. Para Obama, foi feita justiça, impondo o pior golpe à Al Qaeda, em suas duas décadas de conflito contra o Ocidente. A Casa Branca afirma que tem o cadáver de Bin Laden, que não foi mostrado ao público. O corpo seria mesmo da principal figura da maior rede mundial de terrorismo islâmico, já que o teste de DNA bateu com o que a agência de inteligência americana CIA conhece (a partir de exames de um parente dele). Morte não reconhecida Até o presente momento, nenhuma fonte da Al Qaeda reconheceu sua morte, ainda que alguns simpatizantes da rede tenham escrito em redes sociais que, pelo menos, Bin Laden havia se transformado em um mártir e teria escapado à sorte de Saddan Hussein, que foi preso, e em seguida humilhado, julgado e enforcado. Este fato coloca uma série de questões. Uma é sobre as circunstâncias nas quais Bin Laden teria sido localizado. Após haver bombardeado durante anos diversas áreas da fronteira entre o Afeganistão e o Paquistão, finalmente os EUA o teriam localizado, numa mansão nos arredores de Islamabad, capital do Paquistão. Suspeito A CIA havia interceptado uma correspondência de Bin Laden, que teria uma casa no valor de US$1 milhão, rodeada de muros de 3 a 6 metros de altura, e suspeitosamente, sem serviços de telefonia e internet. Para alguém que se esconde da CIA, o ideal é estar mudando constantemente de lugar. Mas Bin Laden teria sido encontrado em uma casa que chamava atenção – e não distante de onde residem altos oficiais e personalidades do regime paquistanês. Desconfiança O Pentágono lançou a operação sem notificar o Paquistão, cujas autoridades, apesar de o país ser considerado um aliado, sofrem desconfiança. Autoridades paquistanesas – assim como a CIA –, na década de 80, patrocinaram a Al Qaeda contra os soviéticos. Isto vem reforçar as tendências, dentro dos EUA, que sustentam o direito de, como superpotência, interferir em qualquer parte do mundo sem pedir permissão a ninguém e sem ter de guardar respeito algum à soberania de qualquer nação. Também oferecerá mais argumentos àqueles que bombardeiam a Síria e o Irã. Impacto Outra questão é sobre que impacto terá a baixa de Bin Laden na Al Qaeda. Vários antigos agentes da CIA manifestaram ao canal Al Jazeera suas dúvidas sobre este assunto, pois Bin Laden seria, antes de tudo, uma figura que fazia declarações, já que esta é uma rede mais federativa, na qual suas diversas bases têm mais autonomia. Os "jihadistas" sabem que sua vida está com os dias contados pois, mais cedo ou mais tarde, devem morrer, seja se auto-imolando ou em combate. Um grande alívio para eles é que Bin Laden não se entregou, como queriam os EUA, mas teria resistido e morrido em ação. Decadência Robert Grenier, ex-diretor do Centro Contra Terrorismo da CIA, no período 2004-2006, considera que a AL Qaeda estava em decadência. Os levantamentos populares árabes vêm demonstrando quão pouco apoio esta rede teria entre as massas muçulmanas, muitas das quais estariam ressentidas com o fato de que a maior parte das vitimas maometanas nas últimas guerras deveriam ser creditadas a esta organização. O ocorrido vem reforçar o governo de Obama, que deverá usar a cabeça de Osama como seu grande troféu, com o qual espera ser reeleito e relançar a megapotência norte-americana que governa como líder mundial. (*) Isaac Bigio vive em Londres e é pós-graduado em História e Política Econômica, Ensino Político e Administração Pública na América Latina, pela London School of Economics. Tradução de Angélica Campos/BR Press Reino Unido: o trono depois do poder Por Isaac Bigio* De Londres Para Via Fanzine Tradução: Pepe Chaves 29/04/2011 O casamento do herdeiro ao trono britânico vem atraindo multidões de turistas e de jornalistas para este que é o casal do ano. No entanto, esta cerimônia transcende o 'jet set' internacional. Enquanto dezenas de milhões de pessoas entusiasmem-se pelos elaborados ritos e pelas histórias do romance real, por trás desse espetáculo sublime há uma realidade que não é tão ressaltada. William é a pessoa que está predestinada a ser o futuro rei da maior monarquia existente no planeta. Ele não ganhou esse direito em um concurso ou votação, mas quando mal se formou no ventre de sua mãe, a Princesa Diana, por ser o primogênito de Charles, filho da rainha Elizabeth II. Sua avó Elizabeth II, em 2012, completará 60 anos de trono. Ela é a mulher mais poderosa do planeta e a chefe de Estado que por mais tempo ocupa um cargo em todo o Ocidente. Apesar de seu país ser uma democracia, nem a rainha, nem a alta câmera britânica têm sido ou são eleitas. Elizabeth, seu filho Charles e seu neto William não são só meras figuras. Ele têm um considerável poder. Os Windsor é a família dirigente de 16 países do mundo, além de ter cerca de quatro dezenas de Estados independentes que integram a sua Commonwealth, a maior comunidade de nações de todos os tempos, tendo em seu seio, mais que a quarta parte da humanidade e dos membros das Nações Unidas. Enquanto o Reino Unido é a nação mais povoada de todas aquelas regidas por Elizabeth II, esta também é a rainha do único país na história que contém todo um continente, a Austrália, além do Canadá, a segunda nação territorialmente mais extensa. Os territórios em que os Windsor reinam somam mais que os da Rússia, o maior país do globo. O sol nunca se põe nos reinos de Elizabeth II. William, quando se converter rei, será, sobretudo, o cérebro da igreja anglicana, a maior de Ocidente, após a de Roma. Ao seu poder territorial e religioso é adicionado o seu poder militar, pois sua nação consiste, juntamente com os EUA, na que lidera a maior quantidade de guerras 'democratizadoras' no mundo. A inteligência da família real está em se manter, não como o poder depois do trono, mas com o trono depois do poder. Eles permitem que seus premiês e bispos tenham muita autonomia, ainda que se reservem o direito a vetar e alterar as decisões finais. Isaac Bigio é analista internacional em Londres. Lecionou política latino-americana na London School of Economics, é autor de artigos veiculados em comunidades latinas de todo o mundo MUNDO ÁRABE - Irmandade Muçulmana Seg, 02 de Maio de 2011 00:00 Isaac Bigio*/Especial para BR Press (Londres, BR Press) - Cada vez mais, a diversas correntes nacionalistas muçulmanas são atores fundamentalistas e fundamentais na nova ordem mundial: os aiatolás do Irã, a Al Qaeda, o Hamas palestino, o Hezbolah libanês, etc. No entanto, o movimento nacionalista islâmico mais antigo, maior e mais influente de todo o mundo árabe é hoje a força política mais tradicional, organizada e forte da crescente oposição egípcia: a Irmandade Muçulmana (IM). Apesar de ser considerada ilegal no Egito, a IM conquistou 1/5 do parlamento na eleições de 2005. Hoje, sua força não se compara à dos aiatolás iranianos em 1979, durante a revolução que depôs o Xá (que então controlavam as mobilizações), pois grande parte do protesto social egípcio é liderado por forças seculares e, além disso, existem outros movimentos rivais à IM (seja por serem mais conservadores ou mais radicais). No entanto, a IM pode acabar integrando um futuro governo pós-Mubarak. Este fato preocupa muito os EUA e Israel, cujo principal inimigo interno é o Hamas palestino, que é um antigo braço da IM na ex -faixa egípcia de Gaza. Osama Bin Laden e Al Qaeda foram influenciados pelas ideias dos Qutb, que foram os mais radicais da IM, mas a Al Qaeda condena o pragmatismo da IM, já que esta formalmente abraça o pacifismo. Pan-islâmico A IM nasceu no Egito, em 1928, convertendo-se no primeiro e maior movimento sócio-político pan-islâmico moderno. Seu objetivo é uma sociedade teocrática, baseada no Corão. Desenvolveu-se como uma internacional, com ramais em muitos países maometanos, alguns dos quais almejam criar um superEstado islâmico, que vá desde a Indonésia até uma Espanha re-muçulmanizada. Ainda que hoje anseie por uma democracia islâmica pacifista similar à da Democracia Cristã no ocidente, a IM patrocinou ataques a Israel e um levante, em 1982, contra o Baath sírio, que terminou com um massacre contra este e que custou dezenas de milhares de mortos. Durante a ocupação britânica, a IM buscou os nazistas como aliados e um de seus associados (o Mufti, de Jerusalém) recrutou muçulmanos para Hitler e festejou o holocausto. Perseguição Duas décadas após ter sido criada, a IM chegou a ter entre 1 e 2 milhões de membros, mas depois que, em 1948, um de seus membros ter assassinado o primeiro ministro egípcio Pasha, e seis semanas depois ter matado seu chefe e fundador al-Banna, produziu-se a primeira das três grandes perseguições contra a IM (as outras duas seriam em meados dos anos 1950 e dos 1960). Membros da IM foram acusados de tramar contra a vida do presidente egípcio Gamal Abdel Nasser (1918-1970) e, em seguida, de assassinar seu sucessor Anwar El Sadat, em 1981. Durante as seis décadas de duração do atual regime egípcio, a IM vem se mantendo na oposição e preferindo soluções pacíficas e negociadas. A IM é, portanto, um movimento de cunho semi-democrata-liberal. Apóia ditaduras como as do Sudão e Argélia, mas condena a Al Qaeda. Conservadora Em termos econômicos, tem alguns postulados de esquerda, mas nas questões sociais é conservadora e hostil à igualdade entre os sexos e credos. Questiona os EUA, mas seu braço jordaniano tem uma boa relação com a Casa Branca, e o ramo iraquiano também é próximo de Washington. O maior temor dos EUA e de Israel, hoje, é que a IM não apenas chegue ao poder no Egito, mas que se radicalize e que incentive os novos protestos anti-ditatoriais no mundo árabe a adotar uma dinâmica nacionalista. Apesar disto, a estratégia de ambos consiste em buscar uma alternativa a Mubarak que parta do exército ou de civis como Mohamed El Baradei, enquanto pressionam para que a IM siga o caminho pró-ocidente dos nacionalistas islâmicos turcos. (*) Analista de política internacional, Isaac Bigio vive em Londres, onde lecionou na London School of Economics, e também assina coluna no jornal peruano Diario Correo |